A aquacultura é um sector em expansão e com uma grande relevância em termos de produção piscícola, em Portugal e no mundo, e o principal provedor de proteína animal de peixe num futuro não muito distante. No entanto, a necessidade de inovar tanto em termos de espécies produzidas como em tecnologias e protocolos, tem sido uma constante neste sector, sendo esta inovação crucial para fazer frente aos requisitos de qualidade e quantidade para satisfazer os consumidores.
Nos últimos anos, o linguado Senegalês (Solea senegalensis) demonstrou ser uma espécie com potencial para a diversificação dos mercados saturados do setor aquícola, com procura por parte dos grandes investidores, que vêem nesta espécie uma alternativa rentável às produções piscícolas existentes. Ainda que o cultivo experimental desta espécie se tenha iniciado em 1986, diferentes constrangimentos impediram a produção desta espécie a grande escala até à atualidade. A inovação, o desenvolvimento de novas tecnologias e a implementação de novos protocolos possibilitaram recentemente a sua produção a grande escala, principalmente em Espanha. No entanto ainda subsistem alguns problemas por resolver, como a impossibilidade de obter reprodutores produzidos em cativeiro e a elevada incidência de deformações em larvas e juvenis produzidos nos sistemas de aquacultura intensivos. Durante o cultivo larvar, as deformações esqueléticas podem afetar 60-80% dos indivíduos produzidos, causando maiores mortalidades e suscetibilidade a doenças. Destes indivíduos deformados, uma elevada percentagem apresenta alterações significativas na morfologia externa, o que inviabiliza a sua comercialização, contribuindo para um decréscimo da produtividade e dos lucros das empresas. Estes problemas, constituem um dos principais obstáculos para o investimento nas regiões costeiras de Portugal para o cultivo do linguado.
A implementação de melhorias técnicas nas metodologias de cultivo e na nutrição do linguado Senegalês, que levem a uma redução da incidência de deformações esqueléticas e a um melhoramento da qualidade e do bem-estar animal, constitui uma melhoria significativa na produção desta espécie. Trabalhos de investigação previamente realizados pela equipa investigadora da presente proposta (projetos: SpecialK, 2008-2012, financiado pela FCT; e KLING 31-03-05-FEP-0073-Universidade do Algarve, 2014-2015, financiado pelo Programa PROMAR) permitiram otimizar o cultivo de forma a obter um maior número de larvas e juvenis com uma melhor qualidade e a sua transposição para o sector privado. Atualmente, a substituição das fontes de matérias-primas que compõem as rações de peixes, tradicionalmente a farinha e óleo de peixe, e a procura de novas fontes alternativas de elementos funcionais que promovam um desenvolvimento esquelético correto, induzam uma maior resistência ao estresse e a agentes patogénicos, e um correto desenvolvimento das gonadas dos machos F1, são uma necessidade no sector aquícola. Mais ainda, a exploração de recursos naturais marinhos alternativos como as macroalgas para cobrirem estas necessidades, representam uma oportunidade de negócio nas regiões costeiras para o seu desenvolvimento sustentável. O interesse crescente da indústria nutricêutica em recursos naturais como fonte de novos compostos e moléculas demonstra a importância e necessidade de linhas de investigação direcionadas para a descoberta e caracterização destes bioprodutos.
No projeto ALGASOLE queremos complementar e expandir os nossos resultados preliminares, que indicam uma melhoria na qualidade esquelética do linguado e uma melhor qualidade espermática nos machos F1 quando a sua alimentação é suplementada com vitamina K. Neste contexto, pretendemos melhorar nutricionalmente o alimento de larvas e juvenis, recorrendo a recursos naturais (macroalgas) ricos em vitamina K, a fim de promover a qualidade e o bem-estar animal contribuindo para uma melhoria significativa da produção. A primeira tarefa deste projeto consiste então na prospeção de macroalgas ricas em vitamina K na costa Portuguesa, que possam ser subsequentemente cultivadas de forma controlada. Posteriormente, extratos purificados a partir dessas macroalgas irão ser integrados no alimento vivo e inerte fornecido a larvas e juvenis, respetivamente. Finalmente, iremos avaliar os efeitos desta suplementação nutricional nos parâmetros que são hoje considerados os constrangimentos na produção de linguado: crescimento, deformações esqueléticas, resistência ao estresse e patologias e melhoria da maturação e desenvolvimento das gónadas (principalmente dos machos F1).
Neste contexto, o Projecto ALGASOLE apresenta uma proposta para o sector aquícola que visa reforçar, inovar e diversificar as técnicas de produção em Portugal, através do desenvolvimento de conhecimentos cientifico-tecnológicos na gestão da qualidade e bem-estar animal e na gestão reprodutiva e nutricional do linguado Senegalês. Pretende-se desenvolver e testar tecnologias inovadoras em condições próximas das condições reais da atividade produtiva, visando promover técnicas alternativas para um incremento da produção desta atividade económica. Adicionalmente, a utilização de recursos naturais marinhos como fonte exequível, sustentável e acessível para novos bio-compostos representa não só uma mais-valia para o sector aquícola, mas também uma área com forte potencial para utilização em outras indústrias.